Urbanização é o deslocamento de um grande contingente de pessoas que saem da área rural para os centros urbanos, num processo de afastamento das características de sua localidade ou região rural para características urbanas. Demograficamente, o termo denota a redistribuição das populações das zonas rurais para assentamentos urbanos. Também pode designar a ação de dotar uma área com infra-estrutura e equipamentos urbanos como água, esgoto, gás e eletricidade e/ou de serviços urbanos como transporte, educação e saúde. É estudada por diversas ciências como a sociologia, a geografia e a antropologia, cada uma delas propondo abordagens diferentes sobre o problema do crescimento das cidades. 1
O tema desse trabalho sobre urbanização focalizado à orla de Laranjal do Jari, tem como propósito contextualizar historiograficamente as implicações do crescimento urbano da cidade buscando reconhecer sua população oriunda do Projeto Jari (projeto de desenvolvimento da Amazônia na década de 1960), constituída de valores tão pouco respeitados, muitas vezes ocultados e reprimidos, porém manifestados cotidianamente nas suas atividades culturais, escolares e nos movimentos de bairro.
Teoricamente a pesquisa será fundamentada na história social da cultura, pois acreditamos que a identidade de uma população e suas relações sociais está diretamente ligada às suas expressões culturais.
Nesse sentido, utilizamos como referência a Martha Abreu, professora adjunta do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre na referida Instituição e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), especialista em história social da cultura e história do Rio de Janeiro, autora de diversas obras nessa área, dentre elas O Império do Divino que comenta sobre a Festa do Divino Espírito Santo e suas transformações na cidade do Rio de Janeiro, ao longo do século XIX.
___________
1 Dados extraídos do site http.wikipedia.org
Na obra citada acima, a autora retrata os conflitos entre as diferentes classes ocupantes de um mesmo espaço urbano. De um lado os motivados por uma civilização neoliberalista e do outro a resistência de uma identidade manifestada nas atividades culturais.
Faremos um recorte historiográfico do período republicano referente ao processo de urbanização no século XIX e uma pesquisa de campo sintetizando assim os dados historiográficos com relação à urbanização da orla de Laranjal do Jari.
Vale ressaltar as abordagens sobre histocidade de Renata Malcher de Araujo, natural de Belém, Arquiteta, mestre e doutora em História da Arte, especialidade em História da Arte Moderna, Arquitetura e Urbanismo, pela Universidade Nova de Lisboa, 2001, com a dissertação A Urbanização do Mato Grosso no século XVIII: Discurso e Método, e em História da Arte, também pela Universidade Nova de Lisboa, 1992, com a dissertação As Cidades da Amazônia no século XVIII: Belém, Macapá e Mazagão. É Professora do Departamento de História, Arqueologia e Património da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve e desenvolve pesquisa em especial na área da História do Urbanismo Colonial.
Na obra As Cidades da Amazónia no século XVIII: Belém, Macapá e Mazagão, Renata Malcher cita a criação da Vila de São José de Macapá num propósito de questionar a partir do desenho urbano a representação do poder e a dinâmica social da administração pombalina no período da fundação da Vila de Macapá. A vila reafirmava e garantia a posse portuguesa e naturalmente o projeto urbano, com duas praças, representariam o urbanismo colonial português dentro de um ideal de convivência civilizada.
Convém refletirmos o processo de urbanização vinculado diretamente aos propósitos do poder português. As características urbanas, nesse sentido, simbolicamente representam a forma abrupta de separação entre o colonizador e os nativos da região.
Não poderíamos deixar de citar Aracy Abreu Amaral graduada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1959), mestrado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1969) e doutorado em Artes também pela Universidade de São Paulo (1975). Pois com experiência na área de Artes, com ênfase em Artes Plásticas e atuando principalmente com os temas de preocupação social, arte brasileira e história. A Autora contribui com diversas obras nessas áreas, entretanto, neste trabalho descatamos o tema A imagem da cidade moderna: o cenário e seu avesso, citado na obra Textos do Trópico de Capricónio: Artigos e Ensaios (1890-2005).
O documentário da jornalista fala da urbanização moderna, atribuindo determinadas conotações do tipo antiurbano e/ou suburbano para o espaço paupérrimo da sociedade moderna. O lado do cortiço seria uma contraposição à elite letrada. Aracy Amaral propõe uma reflexão sobre o que há por trás da ordem aparente da sinfonia de uma metrópole.
Seria ingenuidade da nossa parte irgnorarmos tais abordagens, no sentido de se tratar de um documentário jornalístico e não de uma tendência historiográfica, entretanto, cabe aqui um questionamento referente a temática desse projeto: como conhecer a realidade social, as relações de poder, as separações de classes sem compreendermos o processo de exclusão? São nas periferias das cidades que se localizam uma boa parte daqueles que não encontram nos centros urbanos espaço para estudar, uma unidade de saúde para se obter atendimento médico e tão pouco um ingresso para uma sessão de cinema. Vale enfatizar que as cidades modernas se constituiram numa verdadeira segregação de classes sociais.
Sintetizaremos também nessa pesquisa Rachel Soihet que possui graduação em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista em História do Brasil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense, doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado pela Universite de Paris VIII. Atualmente é professor titular da Universidade Federal Fluminense e Membro de corpo editorial da Revista Universidade Rural - Série Ciências Humanas e Sociais. Tem experiência na área de História, com ênfase em História Moderna e Contemporânea, Atualmente vem trabalhando com os temas sobre Violência, Mulheres Pobres, Cotidiano, Resistência, Rio de Janeiro e Gênero.
Na tendência da história cultural Rachel Soihet em Festa da Penha: resistência e interpretação cultural (1890-1920), citação da obra Festas Religiosas e Participação Popular no Rio de Janeiro (1890-1920), retrata a Festa da Penha como um movimento pacífico num cenário de fortes lutas e insatisfação da Igreja, Estado e de muitos intelectuais.
A obra reflete sobre os populares da Festa da Penha que apesar da opressão e discriminação, mantiveram resistência na preservação de suas identidades culturais, manifestadas nas romarias, batuques e danças e que com determinação constituíram a festa numa primazia cultural para o carnaval carioca.
O foco da pesquisa direcionado à Orla de Laranjal do Jari enfatizando a temática cidadania como um exercício da democracia buscaremos sustentação teórica nos contextos de Lucio Felix Frederico Kowarick, graduado em Ciências Políticas e Sociais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, mestre em Ciências Sociais pela Diplôme D'études Approfondies En Sciences Sociales e doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo. Atualmente é professor titular da referida instituição. Tem experiência na área de Ciência Política, com ênfase em Estado e Governo. Atuando principalmente nos seguintes temas: Dependencia, Marginalidade e Urbanizacao, com linha de pesquisa direcionada a Cidadania, Marginalidade, Exclusão, Sociedade Civil, Vulnerabilidade Social e Civil.
Escritos Urbanos (2000), é o resultado de 20 anos de pesquisa de Lúcio Kowarick. A obra retrata questões centrais que alimentaram o debate na Sociologia Urbana, do qual Kowarick foi uma das referências, no Brasil e na América Latina. Vale ressaltar, que o autor é um dos mais impoprtantes pesquisadores a observar e teorizar sobre esse processo.
Kowarick retoma as discussões sob o ângulo das questões urbanas, discutindo temas, conceitos e polêmicas próprios das conjunturas, conduzindo a uma reflexão sobre o fazer sociológico. Conceitos como contradições urbanas, espoliação urbana, movimentos sociais e lutas urbanas, por exemplo, são discutidos num constante diálogo com o contexto teórico em que se inserem, interpelando, também, o debate político a cerca da transformação social, tendo em vista a conjuntura, marcada por mudanças político-sociais.
Kowarick enfatiza a dinâmica econômica internacional, referindo-se à “nova divisão internacional do trabalho a partir da década de 50” e que definiria um padrão de desenvolvimento altamente concentrador de renda. No contexto de discussão dessas contradições, em que maior riqueza gera maior pobreza, o autor aborda uma questão sociológica central, que consiste em definir a relação entre condições materiais e lutas sociais.
Assim sendo, além da fundamentação historiográfica utilizada para realização desse trabalho, entendemos que para conhecermos as realidades políticas e econômicas, assim como, as relações sociais dos bairros da orla de Laranjal do Jari se faz necessário buscar fundamentação teórica nas ciências sociais, pois diante desse conhecimento será possível compreendermos a dinâmica social da população, ora indicada nessa pesquisa.
Diante das diferentes abordagens historiográficas, jornalísticas e sociais fica claro que urbananização não é uma política nova, mas que vem sendo moldada no Brasil desde início do período colonial. Nesse sentido, surge um novo desafio na realização desse trabalho, conhecer o pensamento urbanístico idealizado para o Brasil pelos europeus, o que foi implantado no país no período do século XIX e compará-lo com as idéias de urbanização das últimas décadas para assim oferecermos subsídeos historiográficos sobre a urbanização na orla de Laranjal do Jari.
Nenhum comentário:
Postar um comentário