SINTO
VERGONHA DE MIM
Sinto vergonha de mim, por ter sido educador de
parte deste povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a
honestidade, por primar pela verdade, e por ver este povo já chamado varonil,
enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim, por ter feito parte de uma
era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos
meus filhos, simples e abominavelmente a derrota das virtudes pelos vícios, a
ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência com a família,
célula-mater da sociedade, a demasiada preocupação com o ‘eu’ feliz a qualquer
custo, buscando a tal ‘felicidade’ em caminhos eivados de desrespeito para com
o seu próximo.
Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem
despejar meu verbo a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta
falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos ‘floreios’ para
justificar atos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição de
sempre ‘contestar’, voltar atrás e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim, pois faço parte de um povo
que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer…
Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta
de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço. Não tenho para onde ir, pois
amo este meu chão, vibro ao ouvir o meu Hino e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor, ou enrolar o meu corpo na pecaminosa manifestação de
nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti,
povo deste mundo! “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a
desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os
poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude. A rir-se da
honra, a ter vergonha de ser honesto”.
·
Discurso no Senado Federal em 17/12/1914
Nenhum comentário:
Postar um comentário