A educação é condição sine qua non para o desenvolvimento autossustentado do País (GADOTTI e ROMÃO, 1998:23), e seu principal objetivo é formar para a cidadania. O objetivo deste trabalho é possibilitar uma reflexão sobre a origem da escola de massas e os reflexos nos sistemas educativos contemporâneos, em especial no Brasil. Pois, diante do sistema implantado, da propaganda que se faz e da realidade que temos, acreditamos que é preciso repensar a escola que queremos e consequentemente qual sistema educacional é necessário para os tempos atuais.
Para Nadal (2009, p.17), a educação vive um momento de grande contradição, de um lado, a valorização da educação informal, e do outro, a desvalorização da escola e dos profissionais da educação formal. Para compreender esse paradoxo faremos uma breve trajetória sobre a origem e a função da educação.
Até a Idade Média, a educação era pouco sistematizada e estava relacionada à formação das famílias, comunidades e corporações, cujo objetivo, era preparar os jovens para assumir papéis sociais de natureza relativamente simples e previsível, em geral o ofício de seus pais ou familiares. Havia preceptores, mas seu trabalho educativo era de caráter privativo.
A escola e o sistema de educação pública, gratuita e universal, surgiram por volta do século XVII, em plena Idade Moderna. Sua criação veio em resposta às novas configurações sociais marcadas pelo renascimento, reforma religiosa, grandes navegações, descoberta das Américas, iluminismo e a industrialização (NADAL, 2009, p.18).
Esses movimentos trouxeram profundas mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais. Marcou a ruptura do sistema feudal para o capitalismo, foi um momento de consolidação de saberes. Assim, a modernidade pode ser considerada determinante para o modelo de escola que se originaria.
Nadal, afirma:
“A economia – que até a Idade Média era predominantemente rural, voltada basicamente para a subsistência e, por isso, com pouco movimento comercial – passou, sob a égide das grandes navegações e do modelo mercantilista, ao modo capitalista de produção, o qual fez surgir o modelo industrial e, com ele o trabalho assalariado. A sociedade, antes feudal e estamental, com o poder real descentralizado, fechada em grupos sociais detentores de direitos e privilégios exclusivos (nobre, clero), reestruturou-se em torno do Estado moderno e de novas classes sociais, como a burguesia e o proletariado. No campo do pensamento, o modo de conhecer e explicar a realidade, antes baseado na fé (o que a Igreja Católica provavelmente a mais poderosa instituição da época, influenciando até mesmo a soberania dos reis), passou a fundamentar-se ao racionalismo científico e na crença no desenvolvimento e no progresso a serem por ele propiciados” (NADAL, 2009, p.20).
Foi a partir da influencia dos ideais iluministas, do ideal de liberdade plena que se consolidou um novo modelo econômico, social, político e epistemológico. Desta forma se estrutura a ideia de um projeto social fundamentado na regulação da vida em sociedade por meio de um novo modelo de Estado, mercado e comunidade (o Estado Moderno); ao mesmo tempo em que se tinha sua vida regulada, a sociedade podia empreender movimentos de emancipação em relação ao sistema estabelecido, por meio da ética, da arte e da ciência (NADAL, 2009, p.21).
O quer seria moderno? Quem se beneficiava com a o surgimento de um novo sistema? Na verdade moderno, é um pensamento que se sobrepõe a era da “escuridão” (os anos das “trevas”). Moderno, nesse contexto, vem ser a nova maneira de pensar e de se organizar politica e socialmente.
É primordial compreender que nessa transição emerge uma nova classe social, portanto, os mecanismos são criados a partir de seus interesses. A burguesia intensifica as atividades econômicas, alia-se ao povo para pressionar por mudanças e consolida o desenvolvimento do sistema capitalista.
Assim sendo, foi nesse cenário que se iniciou o debate sobre a necessidade de educar o povo, basicamente, com dois objetivos, o do Estado democrático, de se consolidar e legitimar, e, o do capital, de se expandir (NADAL, 2009, p.22).
O sistema educacional brasileiro atual é reflexo do mundo moderno, inspirados nos movimentos europeus, da época, principalmente a França. Assim, de maneira clara, a educação e a escola não foram criadas para atender as camadas populares, mas as elites. É óbvio que o sistema tem passado por profundas mudanças, entretanto, os propósitos permaneceram os mesmos. Por isso, se fala de democratização do ensino, mas o que o se tem é o ensino a distancia e a criação de bolsas e cotas. Fala-se de valorização do profissional da educação, mas o que se estabelece é um piso salarial equivalente a dois salários mínimos.
Fala-se de uma “educação de qualidade”, mas o que é qualidade de ensino? Entendemos que qualidade na educação não é perseguição e desvalorização do professor, monopólio de cargos administrativos, precariedade de merenda escolar, falta de material didático, salas de aula superlotadas.
Quando nos referimos à qualidade no processo de ensino, nos referimos à satisfação dos profissionais da educação, inclusão digital, climatização das salas de aula, descentralização dos recursos financeiros e autonomia das instituições de ensino.
Ainda acredito que é possível construirmos uma escola diferenciada dos modelos modernos, acredito na escola cidadã, construtora de valores, feita de erros e acertos, de discussões e debates. A escola para o nossos tempos deve romper barreiras, derrubar os muros do comodismo, vencer obstáculos, superar preconceitos e construir cidadão críticos e compromissados.
Eis os desafios!
REFERÊNCIAS
FELDMANN, Marina Graziela. Formação de professores e escola na contemporaneidade. Editora Senac. São Paulo, 2009.
SALTO PARA O FUTURO: Construindo a Escola Cidadã, projeto político pedagógico/ Secretaria de Educação a Distancia. Brasília: MEC, SEED, 1998