(NO CASO BRASILEIRO)
O escritor Lima Barreto proferiu a seguinte frase: “O Brasil tem povo, tem público”, e infelizmente temos que concordar com essa afirmativa, pois essa é a realidade da atual conjuntura brasileira. Povo pode ser classificado como o número de pessoas que compõe a sociedade, são os indivíduos que habitam num determinado espaço geográfico. E o público é aquele que assiste o espetáculo dos líderes políticos do país.
O povo é manobrado ideologicamente pelos sistemas de comunicação e pelas estruturas de dominação do estado e por aqueles que governam. As ações dominantes acontecem como um show. No cenário político, jurídico e administrativo do país são escândalos, fraudes, corrupção e desrespeito ao cidadão que fazem do espectador, o público brasileiro, apenas aplaudir e pedir que o filme seja repetido, quando os elegem novamente para um novo mandato.
Vivemos num tempo em que as grandes lideranças públicas perderam sua credibilidade, um período de revoltas e angústias de uma população que estabeleceu norma e conduta moral para se viver numa sociedade onde as partes se respeitassem, um momento de profundas reivindicações que exigem mudanças de atitude e comportamento e que seja dado um basta na banalidade como vem sendo tratada a coisa pública, eis a razão pela qual a política perdeu o seu sentido de uma simples polis organizada, para uma variedade de interpretações de descrédito, leviandade e sujeito de manobra.
A população brasileira atribuiu poderes aos seus governantes, criou códigos, leis e normas, obedeceu a uma idéia de que se fazia necessário a representatividade pública e através do voto elegeu seus representantes. Claro, isso não se deu de uma hora para outra e nem tão pouco de maneira consciente e com a participação de todos. Entretanto, de forma geral, foram estas normas que se estabeleceram. Vale ressaltar que ao longo dos anos esses acordos nunca foram cumpridos e o que tem prevalecido são decepções e angústias de uma população frustrada com aquilo que criou.
As conquistas obtidas na política deste país que aconteceram nas últimas décadas se deram por reivindicações e greves, o que não seria necessário se todos cumprissem o seu papel.
A política que teve sua origem no mundo grego, como símbolo de uma cidade organizada, a chamada polis, hoje recebe várias denominações e nenhuma que abone o seu verdadeiro sentido. O fato é que os que fazem a política, tão pouco, têm o entendimento do que seria política e qual a sua função. Utilizam do poder estabelecido para fins particulares, até por que a própria população também tem uma parcela de culpa, pois é ela quem elege. Infelizmente o voto, deixa de ser democrático e se torna voto de “cabresto”, quando troca o voto por favores que o Estado lhes oferece.
Nesse sentido, a política ganha o seu descrédito e para os que estão no poder ou se beneficiam do poder público torna-se maravilhoso, pois se a população não participa os grupos oligárquicos continuam se beneficiando.
As mudanças nesse cenário político só acontecerão a partir do momento que cada cidadão consciente comece a exercer sua cidadania e faça prevalecer na política o seu verdadeiro sentido, que é de organização, discussão e que visa sempre o bem estar da coletividade.
Entendemos democracia como um processo de eleições diretas e participação popular, assim como, liberdade de pensamento e de expressão, contrário do autoritarismo que é um regime de governo onde não há eleições, nem partidos políticos.
No Brasil, democracia e autoritarismo sempre foram vistos como algo que se realizam na esfera do Estado. Desde já, convém afirmarmos que a democracia na sua essência não existe, pois, a partir do momento que se cria a regra, ela deixa de ser democrática. É conveniente afirmar que no Brasil sempre existiu a ditadura social, pois todas as formas de poder são hierárquicas, onde uns mandam e os outros obedecem.
Na nossa sociedade a igualdade social não é vista como um direito de todos. O que prevalece é o racismo, a discriminação religiosa e a desigualdades econômicas.
Vivemos numa sociedade onde as classes sociais são dividas, umas tem privilégio e outras não e nessa perspectiva, convenhamos sintetizar que a democracia é apenas uma farsa, uma utopia pra quem sonha com direitos iguais, justiça para todos e que um dia patrão e empregado irão “comer no mesmo prato”.
Assim sendo, democracia e cidadania na contemporaneidade são palavras da moda. Nunca se falou tanto de participação democrática, exercício da cidadania e política pública voltada para a coletividade como se tem falado nos dias atuais. Seja por uma necessidade de mudança de paradigma, ou pela continuidade de manipulação dos direitos do cidadão, ou até mesmo devido à expansão dos meios de comunicação social.